Nesta
matéria você encontrará um panorama de como está posicionada a logística
no Brasil frente aos nossos concorrentes no cenário mundial. Verá quais os
nossos pontos fortes e onde (e como) precisamos melhorar. Entenderá algumas
tecnologias que podem ajudar as empresas a alcançar um desempenho superior. Leia abaixo:
Logística e cadeia produtiva
A cadeia
produtiva é um processo integrado, assim como deve ser a boa logística. Hoje,
falamos em logística integrada
ou em gestão da cadeia de suprimentos,
pois todos os envolvidos são interdependentes. Há tempos a logística deixou de
ser sinônimo de transporte.
Fabricantes de matérias-primas estão envolvidos em entregar o produto de acordo
com a necessidade do produtor. O produtor, dentre outras coisas, precisa pensar
na embalagem do produto de forma que facilite o transporte, a exposição, a
segurança, o meio ambiente… os distribuidores e grandes varejistas precisam ter
seus sistemas integrados para garantir a disponibilidade do produto no momento
certo. Então, os transportadores e fornecedores de tecnologia também fazem
parte do processo. Esta integração é uma tendência mundial e já é realidade no
Brasil.
As empresas e os modais de transporte
Existem
boas empresas que oferecem serviços logísticos integrados, os operadores
logísticos. Eles oferecem serviços integrados de gestão de estoque, transporte,
armazenagem, consolidação e desconsolidação de cargas. São serviços que agregam
valor ao cliente.
Mas
infelizmente, para transporte nacional, 60% das cargas utilizam as rodovias,
mesmo quando elas devem ser enviadas de norte a sul, viajando mais de 3000 km.
Isto é economicamente inviável, e outros modais de transporte seriam mais
vantajosos, se estivessem disponíveis. Na Rússia, concorrente direto do Brasil
no cenário internacional, cerca de 80% das cargas viajam de trem, que é mais
barato para as longas distâncias e mais seguro.
Problemas da logística no Brasil
O
principal problema do ponto de vista logístico é a infraestrutura. Pouco mais
de 10% das nossas estradas são pavimentadas, o que soma menos de 250 mil km.
Não adianta tentar comparar esta situação com países desenvolvidos. Ainda
assim, se quisermos comparar esta situação com os outros membros do BRIC, o
Brasil está muito atrás. A Rússia tem mais de 600 mil km de estradas pavimentadas
enquanto a China e a Índia tem, cada uma, em torno de 1,5 milhão de km de
estradas asfaltadas.
E vale
lembrar que as rodovias são nosso “ponto forte”. O Brasil tem apenas 30 mil km
de ferrovias contra 63 mil km da Índia, 77 mil km da China e 87 mil km da Rússia.
Apenas para colocar estes números em perspectiva, os EUA tem mais de 220 mil km
de trilhos.
Com
relação aos navios a situação não é diferente. Temos 14 mil km de hidrovias.
Rússia e China tem mais de 100 mil km cada uma. Nos portos brasileiros, estima-se
que o custo de movimentação por tonelada seja de US$ 13 enquanto a média
mundial é de US$ 7.
Some isso
tudo ao fato de que as rodovias são o principal meio de transporte de cargas no
Brasil, e você tem a receita para uma distribuição cara, ineficiente e
inconsistente, ajudando a aumentar o chamado Custo Brasil.
Além da
infraestrutura viária existem ainda problemas relacionados à tecnologia
utilizada: baixo índice de rastreamento de cargas, nem sempre se tem integração
de sistemas e muitas vezes os modelos de previsão de demanda
são inapropriados ou inexistentes. A melhoria do processo logística global
depende da solução de cada um destes elementos.
Como os problemas afetam a produtividade
Estes
números que citei fazem com que os produtos brasileiros percam competitividade
e o consumidor pague um preço alto. Se as estradas não estão em boas condições,
aumenta o custo de transporte, que é inevitavelmente transferido ao consumidor.
O frete é um dos principais componentes dos custos logísticos.
O roubo
de cargas ainda é um problema presente no Brasil. Em 2009 foram registrados
mais de 1 bilhão de Reais em prejuízos com roubo de cargas. Este custo também é
repassado ao consumidor final, tornando o roubo de cargas um problema de todos
nós.
Além disso, se as empresas não fazem a gestão da demanda de maneira correta, acabam com estoques
elevados, que custam caro. Com a quantidade de dados disponíveis hoje é
possível fazer uma excelente previsão de demanda,
mantendo níveis de estoques mais baixos sem causar rupturas.
Estes
dois elementos, transporte e estoque, são os principais componentes do que
chamamos de custos logísticos.
A infraestrutura e o crescimento econômico
Caminhamos
para o colapso logístico. A crise mundial diminuiu as demandas e deu sobrevida
à nossa infraestrutura, mas os números já mostram que estamos voltando aos
patamares anteriores. O crescimento do Brasil está maior que o crescimento da
oferta de transporte (rodoviário), que tende para o apagão.
A
economia está crescendo, mais famílias tem acesso aos diferentes bens de
consumo, mas não vemos investimentos substanciais em infraestrutura. Sem
investimentos maciços nos portos, aumentando a capacidade e a eficiência, o
transporte no Brasil continuará caro e altamente dependente dos caminhões.
Situação do transporte rodoviário
Não
somente temos poucas estradas asfaltadas, como o estado de conservação deixa a
desejar. Isto acarreta atrasos, maiores custos de manutenção da frota e preços
maiores para os consumidores. Os pneus dos caminhões duram em média 250 mil km
no Brasil, metade do que dura nos EUA e 100 mil km a menos do que na vizinha
Argentina. Os amortecedores dos caminhões no Brasil duram em média 80 a
150 mil km enquanto que em estradas adequadas, este número sobe para 200 mil
km.
O custo
do transporte rodoviário é muito grande no Brasil, especialmente para longas
distâncias, para as quais deveríamos utilizar outros meios de transporte. Veja
o exemplo de um frete de pouco mais de 1000 km, entre Goiás e o Porto de
Paranaguá, no Paraná feito por caminhões: custa 75 dólares por tonelada. A
mesma distância, se fosse percorrida nas hidrovias americanas custaria 18
dólares por tonelada.
Trens e navios
A produtividade
e eficiência de outros setores de transporte no Brasil não são diferentes do
que já discutimos para as rodovias. No maior porto do Brasil, o Porto de
Santos, a carga fica parada em média 17 dias, enquanto a média mundial é de 5
dias. Na Suécia, por exemplo, um contêiner fica parado em média apenas por 2
dias.
Em outras
avaliações a ineficiência também é notável: em um dos maiores e mais
movimentados portos do mundo, o Porto de Roterdã, a média de carga movimentada
por funcionário é de 300 mil toneladas por ano, enquanto no Porto de Santos são
50 mil toneladas por ano.
O próprio
governo reconhece o atraso dos portos, através de estudos realizados pelo IPEA.
Eles mostraram que é preciso investir na construção, ampliação e recuperação
dos terminais, na melhoria dos acessos terrestres, na dragagem e na
infraestrutura em geral. O investimento necessário, estimado pelo mesmo estudo,
era de 43 bilhões de Reais, mas o PAC alocou apenas 10 bilhões para os portos.
As
ferrovias padecem de outro mal: elas são incompatíveis entre si. Existem
diferentes tamanhos de bitolas no Brasil, então um trem não consegue ir para
regiões diferentes. O IPEA também estimou o custo para solucionar estes
gargalos ferroviários em 76 bilhões de reais, principalmente para a construção
de novas linhas, já que temos pouquíssimos trilhos. No entanto, os
investimentos do governo tem sido de menos de 0,3% do PIB por ano, muito aquém
do necessário.
Com
sistemas antigos e sem investimentos, as ferrovias do Brasil são lentas: média
de 25km/h contra 80km/h dos trens americanos, fruto do sucateamento da malha
ferroviária, que diminuiu nas últimas décadas sem receber investimentos de
manutenção.
Solucionar os problemas logísticos?
É
possível e existem planos, como os estudos do IPEA que citei. Há também boa
vontade do setor privado, que se beneficia grandemente com a melhoria da nossa
infraestrutura.
Mas
certamente a solução não é mágica e não acontece no curto prazo. É preciso
manter investimentos contínuos e ter um plano de desenvolvimento logístico de
longo prazo, como um plano de Estado e não um plano de governo, que muda a cada
4 anos.
O papel da iniciativa privada
Como
falei, a iniciativa privada se beneficia da melhoria da situação logística do
país. Eles encontram custos menores, mais confiabilidade e maior produtividade
se a infraestrutura logística é adequada. Por isso vemos participação privada
no desenvolvimento logístico nacional.
Veja o
exemplo das rodovias privatizadas: elas tem qualidade superior (às
custas de pedágios, é verdade), mas são estradas com condições de segurança,
sinalização e estado do piso de rodagem superiores à média nacional.
Para as
ferrovias, o setor de mineração faz o trabalho sozinho, com investimentos de
até 5 bilhões de Reais por ano.
No setor
de tecnologia e integração, as pesquisas e desenvolvimento de sistemas
informatizados ajudam a reduzir custos tanto de transporte (como nos programas
que criam rotas para distribuição urbana) quanto de estoques (como modelos de
previsão de demanda).
Tecnologias para transporte e diminuição de
estoques
Nos
sistemas de transporte, é através do que chamamos de roteamento de veículos:
trata-se de encontrar a forma mais eficiente de enviar os caminhões para fazer
a distribuição dos produtos. As pesquisas nesta área tem mais de 50 anos e
continuam a avançar, encontrando soluções melhores e em menos tempo. É uma área
em que as pesquisas científicas são transferidas para o meio empresarial muito
rapidamente.
Nos
sistemas de previsão de demanda, utilizamos dados históricos de vendas e
cruzamos com outras informações relevantes para prever, com segurança, qual
deve ser o estoque mantido e quando devem ser feitos novos pedidos.
Há ainda
muitas outras tecnologias interessantes que se aplicam neste setor, como a
precificação: qual deve ser o preço cobrado por um produto? As companhias
aéreas usam esta tecnologia há muitos anos e aos poucos ela começa a aparecer
no varejo também.
Inovação
Certamente,
como todas as novas tecnologias, há espaço para criatividade e inovação. Sempre
aparecem soluções diferentes para resolver problemas, diminuindo o custo.
Um
exemplo interessante, novamente na área de distribuição, ocorreu nos EUA quando
uma empresa de transporte decidiu que seu sistema de roteamento de veículos
deveria evitar que os mesmos tivessem que fazer curvas à esquerda. Em vias de
mão dupla, é preciso esperar que o tráfego no sentido contrário pare para que
se avance à esquerda. Ficar parado custa dinheiro. Eles mostraram que
conseguiam economizar tempo e dinheiro fazendo o veículo continuar seu trajeto
percorrendo um caminho maior, desde que evitasse virar à esquerda!
Fonte: Logística Descomplicada